‘A única medicação que temos hoje é o isolamento social’: esclarece em entrevista Dr. Ricardo Furtad
- Mateus Gori
- 27 de mar. de 2020
- 4 min de leitura

O Programa Conexão Líder, apresentado por Anderson Badaró, divulgou nessa sexta-feira, 27, entrevista exclusiva com o Dr. Ricardo Furtado de Carvalho, Médico Nefrologista, Diretor Administrativo do curso de Medicina da UNIFAGOC, sanitarista e especializado em saúde pública, que deu o seu parecer sobre a situação da pandemia, necessidade de isolamento e cuidados básicos a serem tomados.
Confira os principais trechos da entrevista:
MOMENTO EM ESCALA GLOBAL
“Eu vejo o momento com muita apreensão, pois nós estamos diante de uma doença que nós só conhecemos há quatro meses, dito que ela foi identificada somente em janeiro, aparecendo no final de dezembro. É uma doença altamente letal, quando alcança pessoas sensíveis, uma doença que ninguém conhece bem a sua propagação, mas que é uma propagação quase que incontrolável, visto que em quatro meses uma doença saiu da China e dominou o Mundo. É só lembrarmos que há dois meses o Trump (presidente dos Estados Unidos) disse que lá a doença não entrava e hoje os EUA já têm mais casos confirmados que a própria China. Então temos que saber que não é doença pra brincadeira!
CORONAVÍRUS É UMA DOENÇA DE IDOSOS?
Essa conversa que só pega em idoso, por exemplo, temos que saber que essa doença evolui e muda muito. Esse foi o perfil em alguns locais. Para se ter ideia, em Minas Gerais 80% dos infectados tem menos de 59 anos. Sendo assim, não dá para ter um padrão definido para essa doença hoje. Inclusive, pelo fato de ela estar infectando crianças de 1 a 10 anos, o que era considerado há pouco tempo como fora do perfil de alcance desse vírus. Hoje vemos que nem as crianças estão fora da possibilidade de contágio.
IMPACTO NA ECONOMIA
Temos que saber que convivemos com uma pandemia. A Organização Mundial de Saúde não declararia isso dessa maneira atoa. Vai produzir transtorno econômico? Vai! Por causa do isolamento social, pois ainda não podemos dizer que isso é uma quarentena. É um isolamento social, diferente de São Paulo, por exemplo. É esse fato das pessoas terem que ficar em casa, com somente os setores essenciais continuarem em funcionamento. É previsto uma queda no PIB brasileiro de 4%, se mantivermos essa metodologia. Na Itália, que não tomou os devidos cuidados como o isolamento social, eles preveem uma queda de 25%. É astronômico! A queda no PIB com isolamento ou sem isolamento, virá! E pode ser que sem o isolamento ela seja muito maior, porque quando entrar o estado de pânico, a gente não tem noção de onde pode parar.
IMPORTÂNCIA DO ISOLAMENTO SOCIAL
Nós temos que fazer o isolamento dos 15 dias, que foram inicialmente propostos. Depois avaliar se podemos relaxar em alguns setores, fazendo isso devagar. Lembrando que, população vulnerável (idosos e pessoas com baixa imunidade por questões de saúde), que não depende economicamente de sair de casa, não pode quebrar de maneira nenhuma esse isolamento de 90 dias! Em nenhuma situação! Nós temos que nos antecipar a um caos nos hospitais. A curva de infecção no Brasil não é boa, mesmo com todos os cuidados. Esperamos que com esses 15 dias a situação possa melhorar. Mas o isolamento tem que ser respeitado, principalmente pelas escolas, que ajudam a diminuir o movimento na cidade. Temos que manter o isolamento para não virar uma quarentena de fato, como ocorre na Rússia e na Índia, onde os países estão de fato fechados e quem descumprir cumpre pena de até 5 anos.
PRONUNCIAMENTO DO PRESIDENTE JAIR BOLSONARO
É uma situação grave de fato! O Primeiro Ministro da Inglaterra está infectado, os coordenadores de defesa de São Paulo e dos Estados Unidos também pegaram. É um vírus altamente violento! Está longe de ser uma coisas simples como a gripe. É só pegar a estatística de Minas Gerais, onde 80% dos infectados tem menos de 59 anos e dentro dessa porcentagem, 7% são crianças de 1 a 10 anos e 17% estão entre 20 e 30 anos. Não podemos achar que isso é uma doença de idosos. Ela vai pegar! Se os idosos estiverem em casa e os jovens forem para as ruas, eles vão pegar. Ela é de uma violência absurda! Não pode ser comparada a H1N1 nem ao outro corona que surgiu na Arábia. Nós não conhecemos nada desse vírus, é só vermos como mudou completamente a curva de infecção e analisarmos os números de Minas. Isso é assustador e temos que cumprir o isolamento social!
RISCO DE MUTAÇÃO DO CORONAVÍRUS
Nosso clima tropical pode fazer com que o vírus sofra mutação e gere outro tipo de infecção, a gente não sabe. E nós temos um outro complicador agora, pois a partir de outubro começa a pegar o vírus da influenza e se uma pessoa pegar os dois, ela pode ser jovem, pode ter mais idade, pode ter antecedentes, que infelizmente ela será fatal.
MEDICAÇÃO
Nós não temos certeza da forma de propagação, nem quanto à medicação. É tudo experimental e pode causar danos irreversíveis. A única medicação que temos hoje é o isolamento social, para que a gente não tenha que chegar à quarentena, que é o isolamento compulsório. Não há outro remédio!
O programa Conexão Líder acontece de segunda à sábado, de 11:45 às 13 h na Rádio Líder FM 103,5 e todas as entrevistas tem acontecido por telefone, respeitando as orientações da Organização Mundial da Saúde.
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