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Homenagem a Otton Nelson Vieira Peluso

  • Raynara Pires
  • 23 de jan. de 2017
  • 7 min de leitura

Faleceu em Ubá, no último sábado (21), Otton Nelson Vieira Peluso. Otton era presidente do Núcleo Regional de Voluntários de Combate ao Câncer de Ubá e estava à frente da entidade há quase 20 anos.


O novo presidente do Núcleo, Francisco Perón, demonstrou sua admiração e se emocionou falando sobre a importância de Otton para a entidade. “Ele foi uma pessoa que dedicou a vida pelo núcleo. Ele transformou o núcleo. Reconstruiu. Uma pessoa para dedicar igual ao Otton é difícil. Não digo que é insubstituível, pois ninguém é, mas vai ser difícil substituir. Infelizmente perdemos um grande amigo, fico sem palavras.”


O Prefeito de Ubá, Edson Teixeira Filho, também lamentou a morte de Otton e demonstrou suas expectativas em relação aos novos administradores. "Com o falecimento do Sr. Otton Peluso, Presidente do Núcleo Regional dos Voluntários de Combate ao Câncer de Ubá, perdemos uma referência no atendimento dos portadores desta doença, mas ganhamos com a certeza de que o ótimo trabalho realizado pelo Núcleo, na prevenção, nas campanhas educativas, no encaminhamento para tratamento e sobretudo na atenção humanizada aos mais necessitados, não será interrompido. Desejamos aos sucessores plena realização dos objetivos do Núcleo e que a memória do Sr. Otton, seja a mola propulsora para novos projetos e continuidade da prestação de serviços no atendimento à população de Ubá e região."


Através da publicação de uma matéria veiculada em dezembro de 2012 na Revista IN, o jornal O Noticiário homenageia Otto Nelson Vieira Peluso. Confira a matéria na íntegra:


Matéria Revista IN - dez 2012...

“Tenho dois parceiros fortes: Deus e o povo!”

Otton Peluso e os seus 15 anos de amor e dedicação ao Núcleo de Combate ao Câncer


Quarta-feira, 9 horas da manhã. Chego à nova sede do Núcleo Regional de Voluntários do Combate ao Câncer na Rua Mauri Martins de Oliveira, no Bairro Santa Bernadete. Uma edificação simples, porém moderna, lembrando grandes laboratórios particulares, inaugurada em fevereiro deste ano. Sou recebido por funcionárias atenciosas e impecavelmente uniformizadas que me pedem para aguardar enquanto anunciam a minha chegada ao seu presidente.

Sou encaminhado a uma sala próxima à recepção, lá uma mesa de reuniões com várias reproduções aumentadas de cheques e um cinzeiro com uma caveira em cima da mesa me chamam a atenção, no cômodo ao lado a secretária Vilmara, com quem trabalha há 15 anos. Neste local sou recebido por um senhor exalando simplicidade, energia e simpatia que me atende e se apresenta: “Bom dia meu filho. Eu sou o Otton”.

Otton Nelson Vieria Peluso, 74 anos, casado, pai de duas filhas e avô de seis netos, nascido e criado em Ubá. Aposentado depois de trabalhar durante décadas como representante comercial de confecções no Nordeste “para começar a trabalhar eram 2.400 quilômetros até Petrolina; dois dias de viagem”. Este é o homem que mudou para sempre a história do combate ao câncer na cidade.


O Núcleo


A história do Núcleo Regional de Voluntário do Combate ao Câncer (NRVCC) começa em 4 de março de 1989, data de sua fundação. Porém a entidade filantrópica só foi inaugurada em 7 de outubro do mesmo ano. No início não havia atendimento em sede própria e o mesmo era feito por um único médico, em uma sala alugada, o qual encaminhava os pacientes para o Hospital Mário Penna, em Belo Horizonte, em caso de constatação da doença. Posteriormente a Prefeitura Municipal de Ubá cedeu uma casa, em regime de comodato, para funcionamento dessa Associação Beneficente, iniciando-se então os exames preventivos de útero e mama. Na época, eram atendidas, em média, 60 pacientes por mês.


Em 1997, Otton Peluso é convidado para integrar o corpo de voluntários daquela entidade aceitando prontamente o convite e, lá, começou seu trabalho como gerente administrativo. “Quando aposentei o Dr. Agostinho Rocha e o Braz Porfírio me procuraram. Isso aconteceu em uma época que a Vigilância Sanitária havia mandado fechar o Núcleo e precisava de ajuda para mantê-lo aberto”, afirmou Otton explicando em seguida uma de suas primeiras ações na entidade: “Para manter o Núcleo aberto era necessário capital. Tivemos que demitir pessoal e cortamos a cobrança de consultas para poder focar em pedir doações, se você pede você não pode cobrar, se você cobra não pode pedir”.


Em 1999, diante da precariedade da sede e já trabalhando com a política de doações, teve início uma obra incessante de reformas, modernização e atendimento de qualidade aos pacientes da comunidade ubaense e regiões circunvizinhas. No mesmo ano Otton assume a presidência da entidade e dá início a uma era de organização e elevação do nome do NRVCC atendendo pacientes para exames preventivos de mama, útero, próstata e câncer bucal, prestando assistência àqueles que necessitam de acompanhamento médico e psicológico e também os encaminhando para tratamento. Grandes conquistas foram feitas em relação a aparelhagem e exames realizados nesse período.


Nova sede


Porém, depois de mais de uma década de incessante trabalho, era necessário aumentar a estrutura da entidade para alcançar os novos objetivos. E, em fevereiro deste ano, O Núcleo Regional de Voluntários do Combate ao Câncer mudou-se para sua nova casa, no bairro Santa Bernadete, antigo Hospital Sarah Jacob. Segundo Otton, o custo da reforma da sede, um ambulatório, girou em torno de 700 mil reais, e quando perguntado da origem da verba, o presidente do Núcleo foi enfático: “Tenho dois parceiros fortes: Deus e o povo!”.

A despesa geral atual da entidade gira em torno de 50 e 60 mil reais por mês, tudo pago através de doações. “Da porta de entrada do Núcleo em diante ninguém paga nada”. Além disso, tem a ajuda do evento que acontece todo janeiro, o ‘Encontro de Pagodeiros’. Inclusive, o investimento na nova sede aconteceu em grande parte devido à ajuda que vem do Encontro, como explicou Otton: “eu pegava o dinheiro do pagode e guardava, não mexia nele. Em determinado momento investi na compra de dois lotes para a construção da nova sede, mas a planta que fizeram pra mim exigia um investimento que não tinha como pagar. Eles estavam achando que eu estava com dinheiro”, e continuou: “Aí apareceu a oportunidade de comprar essa sede atual, usei minha experiência de anos de vendedor (risos), vendi os dois lotes valorizados e comprei aqui”.

A reforma dessa sede exigia a construção de 330 metros de telhado. “mas telha italiana, com madeira de primeira, que eu não gosto de porcaria não”, contou Otton. “A verdade é que o pagode que me empurrou. O resto dava pra manter, mas o investimento vinha todo do dinheiro do Encontro de Pagodeiros”, concluiu. Dessa maneira, o sonho da nova sede havia se tornado realidade, mas com uma ressalva, conforme contou: “Sonhar é bom. Mas tem que sonhar com o pé no chão. Não fizemos nada que não pudéssemos bancar”. Quando perguntado sobre ajuda de algum órgão publico a resposta foi sincera e divertida: “Tenho vontade!”.


Conquistas e Desafios


Desde que assumiu a presidência da entidade, Otton Peluso se dedica exclusivamente ao Núcleo. Quando chegou, o combinado eram três meses de trabalho, já faz parte da entidade há 15 anos. São 11 meses de trabalho por ano, como explica: “Fechamos em janeiro, os médicos saem de férias e nós saímos também”. Nesse ano, levando em consideração a mudança da sede e o mês de férias, houve uma média de 600 atendimentos por mês, um número 10 vezes maior do que o que encontrou quando entrou na entidade. São 27 funcionários e 12 médicos e a diretoria não é remunerada.

As conquistas não pararam com a construção da nova sede e o tratamento de Quimioterapia foi um dos principais objetivos alcançados. Vitima de um câncer de garganta há pouco mais de um ano, segundo ele “22 anos depois de largar o cigarro”, Otton falou da importância do exame preventivo: “câncer é difícil de escapar, mas se fizer o preventivo tem jeito”. O tratamento teve sucesso e deixou apenas uma cicatriz no pescoço que faz questão de exibir como sinal da vitória contra o câncer e como exemplo ao tratamento preventivo da doença. “Fiquei tão obcecado em montar a Quimioterapia em Ubá que durante o meu tratamento em Juiz de Fora ficava fazendo fotos do local, e fiz as divisórias aqui iguais as de lá” lembrou Otton.

E os objetivos não param por aí, os próximos sonhos a serem alcançados, segundo o presidente, são a construção da radioterapia, uma sala de cirurgia e apartamentos para internação. Espaço não falta para isso, a nova sede do NRVCC ainda tem, nos fundos da atual edificação, uma construção, dos tempos do antigo hospital, necessitando de acabamento completo e com condição de crescer.


Homenagem


Há algum tempo Otton recebeu a visita de um Deputado Estadual, que ouvira falar do trabalho realizado no Núcleo. “Era um rapaz agitado que queria conhecer a sede, pois teria ouvido falar bem. Se apresentou como Deputado e ficou incrédulo quando disse que não recebíamos qualquer tipo de verba do Estado. No momento seguinte, o sujeito falou: fiquei impressionado com isso aqui. Não posso te prometer nada, mas também não estou te pedindo nada. Mas o senhor vai ter notícias minhas” contou. 30 dias depois, Otton recebe um telegrama o convidando para receber uma homenagem em Belo Horizonte e para uma reunião com o Secretário de Saúde do Estado.

A homenagem conferiu a ele a Ordem do Mérito Legislativo e foi dada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais. A cerimônia foi realizada no dia 8 de novembro no Expominas, na capital do Estado, com a presença da Ministra Carmem Lucia Antunes Rocha, oradora oficial do evento.


Sucessão


Por fim, perguntei a respeito de sucessão no cargo de presidente do Núcleo Regional de Voluntários do Combate ao Câncer, pergunta que, de certa forma, perturbou Otton: “Uma hora vou ter que parar e não tem quem me substitua. Os mais jovens não querem se não for remunerado. Velho por velho fico eu.... já conheço médicos daqui e de fora que resolvem problemas pra mim. Quem aceitaria esse cargo seria pessoas ligadas à política. Mas eu jamais permitiria fazer política com o Núcleo. Isso aqui se transformaria em uma máquina de votos. Mas hoje não tenho quem me substitua. Não posso colocar qualquer pessoa aqui, pelo estado que peguei o NRVCC e o que consegui até agora, não posso colocar qualquer pessoa aqui que pode acabar com tudo”, lamentou.


Mas, a grande pergunta, aquela que justificaria esses 15 anos de muito trabalho voluntário e dedicação exclusiva, era simples e ficou para o final: Por quê? A resposta veio de forma simples e com um sorriso cativante em seu rosto: “Porque Deus me ajudou”.



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